Porque Bolsonaro perdeu as eleições

Bolsonaro perdeu as eleições. Já participei de campanhas, algumas ganhadoras, outras perdedoras. Uma vez, em uma campanha não vencedora, um amigo me perguntou, em tom jocoso: “Por que perdeu? Quando se ganha, a campanha diz que ganhou por tais razões, por tais atitudes. E quando se perde, qual é a explicação?” Pensei um pouco, e respondi: “É simples. Perdemos porque tivemos menos votos.” Por que Bolsonaro perdeu? É simples, porque teve menos votos. Porque a maioria não o quer.

Mas por que a maioria não o quer? É simples. Na economia, o PIB caiu de US$ 1,9 trilhões para US$ 1,6 tri em seu governo, ou melhor, em seu desgoverno. Atualmente, somente 21% acham que a economia está no rumo certo, ou melhor, na sua deseconomia. Porque riu do COVID e de suas vítimas, dos 10,5% dos óbitos mundiais para 2,7% de sua população, ou ainda, no descaso pelos que padecem. Pelo descaso pela democracia. Pelo descaso pelas mulheres. Porque mais de 60% acham que sua política ambiental é equivocada. Porque mais de 60% acham que sua política externa é equivocada. Porque neste ano voltamos ao Mapa Mundial da Fome da ONU, com 15 milhões de pessoas sem comida no dia a dia. Porque um governo não pode ter como base a mentira. Pela omissão da omissão na omissão. As milícias digitais não foram suficientes para sufocar a racionalidade do voto.

É verdade, como dizia Goebbels, que “uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”. Mas, como disse John Kennedy, “você pode enganar algumas pessoas todo o tempo, todas as pessoas algum tempo, mas não todas as pessoas todo o tempo”. A mentira não substitui o prato na mesa, não provê sustância onde nada se fez, e nada se representa. Assim, simplesmente, perdeu.

A história não será condescendente com Bolsonaro. Daqui em diante, será somente o líder de parcela restrita da irracionalidade presente. Como se diz na política, quem está saindo do poder bebe o café frio, tão longo vira o percurso do garçom pelos corredores. Eleito como 3ª via em 2018 para combater a “Velha Política” e para implementar uma economia liberal, à “Velha Política” ele se aliou, e quanto ao programa liberal, nada se fez. Amarga rejeição pessoal acima dos 50%, impeditiva para a reeleição, seja por qual diferença for. No day after das eleições, em 31 de outubro, a bolsa subiu 1,31% e o dólar caiu 2,54%, na sinalização positiva do mercado nacional e internacional à ampla frente que Lula representa. Ao mesmo tempo, a desordem se instalou nas estradas brasileiras com o subsídio caminhoneiro de Bolsonaro de R$ 1mil por mês durante as eleições e a assim percebida complacência da Polícia Rodoviária Federal, primeiro capítulo do nosso Capitol Hill ciclotímico. No Dia de Finados, a desordem urbana se repete. Do total do eleitorado, Bolsonaro teve 33% no 1º turno, 37% no 2º turno; o representante dos 1/3; 20% de núcleo duro eleitoral; 1% de radicais. Perdeu porque a maioria não o quer.

Por: Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus

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