Petista investigado por elo com PCC assume comissão da Câmara de São Paulo

Senival Moura é suspeito de envolvimento na ‘máfia dos transportes’ na capital paulista

O vereador Senival Moura (PT), investigado por suposto elo com criminosos do Primeiro Comando da Capital (PCC), foi eleito para assumir a Comissão de Trânsito, Transporte e Atividade Econômica — uma das principais da Câmara de São Paulo. A votação foi unânime. Qualquer assunto relacionado à área de transportes na capital paulista passa pela comissão — ou seja, o presidente que decide quando colocar o tema em discussão.

Em junho do ano passado, o vereador entrou na mira da Polícia Civil em uma investigação para apurar a participação do crime organizado no transporte urbano da capital paulista, que ficou conhecido como “máfia dos transportes”. Entre as empresas alvo da operação está a TransUnião, que atua na Zona Leste. Moura é um dos fundadores da companhia.

Conforme as investigações, a TransUnião “era utilizada para a lavagem de dinheiro de membros do PCC”.

A empresa possui contrato com o município. Em média, 315 mil passageiros dependem do serviço, que atende a 49 linhas com uma frota de 564 veículos. A TransUnião recebe atualmente da prefeitura de São Paulo cerca de R$ 100 milhões por ano — o total do contrato de concessão, válido por 20 anos, é de cerca de R$ 2 bilhões.

O vereador é investigado por suposta participação no assassinato de Adauto Soares Jorge, ex-presidente da TransUnião. Ele foi morto em março de 2020. As investigações do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) apontaram o envolvimento do crime organizado. 

“O Senival Moura foi um dos fundadores da linha de lotação chamada de Guaianazes-São Miguel, a segunda mais antiga da capital”, disse o delegado Fábio Pinheiro Lopes, em junho de 2022, então no cargo de diretor do Deic. “E depois acabou fundando essa cooperativa que se chamava TransUnião.” 

Adauto, amigo de longa data do vereador, teria sido colocado na presidência da cooperativa, mas, segundo as investigações, seria apenas um “laranja”. “Quem dava as ordens era o Senival Moura”, destacou Lopes.

Com o decorrer do tempo, o PCC percebeu que Moura e Adauto estariam desviando dinheiro da cooperativa. E, por isso, havia “decretado” a morte dos dois. Porém, disse a polícia, Moura conseguiu ser “afiançado”, com a ajuda de um membro da facção. O “partido” tomou os ônibus que lhe pertenciam e expulsaram o vereador da empresa.

Na época, a polícia explicou que Devanil Souza Nascimento, o “Sapo”, suposto motorista do vereador Senival, levou Adauto para uma padaria, onde ocorreu a execução ainda no estacionamento. Quem teria cometido o homicídio foi Jair Ramos de Freitas, o “Cachorrão”, que virou diretor da empresa de transporte após o crime. Sapo e Cachorrão tiveram a prisão temporária decretada.

De acordo com a polícia, foi apreendida com a vítima uma relação de 521 ônibus da empresa. Ao lado do veículo, vinha o nome do “laranja” e também do verdadeiro dono. “Mais ou menos, 30% ou 40% dos ônibus são pertencentes a membros do PCC”, contou Lopes. “Foi aí que descobrimos que o Senival tinha 13 ônibus”, destacou. Segundo o delegado, na declaração de imposto de renda para campanha das eleições de 2020, o vereador teria declarado apenas um.

Segundo o Deic, “as apurações continuam”. A investigação está sob sigilo. De acordo com Moura, desde fevereiro de 2020 ele não faz mais parte do quadro de sócios da empresa. Oeste tentou contato com o vereador, mas não teve retorno da assessoria.

Irmão de Senival, ex-deputado foi expulso do PT

Senival é irmão do ex-deputado estadual Luiz Moura, expulso do PT em 2014 após ter sido flagrado pela Polícia Civil em uma reunião em que, segundo a investigação da época, havia membros do PCC. O deputado negou qualquer ligação com a facção criminosa. Diversas investigações do Ministério Público de São Paulo apontaram ligações entre a organização criminosa e o transporte clandestino na cidade.

Pedido de CPI

Ainda no ano passado, na esteira das investigações da Polícia Civil, o então vereador delegado Palumbo (MDB), hoje deputado federal, protocolou um pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) “para investigar todas as empresas que prestam serviço de transporte” na capital paulista.

Na época, o vereador defendeu a apuração de eventuais irregularidades nos contratos de prestação de serviços e identificar eventuais pessoas envolvidas direta ou indiretamente com essas empresas, entre outras suspeitas.

Porém, o pedido não foi para frente. Eram necessárias 19 assinaturas de um total de 55 vereadores. Apenas os vereadores Fernando Holiday e Sonaira Fernandes, ambos do Republicanos, assinaram. “O resto não quis assinar por medo de represália política ou do crime”, disse o delegado Palumbo, que definiu a escolha do vereador para chefiar a comissão como “absurdo”.

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