Os jornalistas da extrema direita que foram demitidos da Jovem Pan

O presidente eleito Lula da Silva não pediu as cabeças de Augusto Nunes, Carla Cecatto e Guilherme Fiuza. Mas Tutinha decidiu oferecê-las pensando no futuro imediato

Só quem acredita na existência do Saci Pererê e do Curupira acredita no jornalismo “imparcial”. Uma imprensa “imparcial” é um mito talvez criado por jornalistas e difundido por leitores às vezes desavisados. O que é preciso no jornalismo é “menos” imparcialidade – porque essa é uma ficção insustentável – e “mais” objetividade. Quando o relato é o mais amplo possível, ou seja, objetivo, fica mais fácil para o leitor se posicionar. Mas “cortes” e até brechas para os chamados “dois lados” refutam imediatamente o mito da imparcialidade.

O jornalismo é, convenhamos, uma atividade parcial. Dependendo do assunto, há um lado ou lados que são considerados mais.

Augusto Nunes, 73 anos, foi editor das revistas “Veja” e “Época” e dos jornais “Estadão” e “Zera Hora”. Ele é um dos profissionais mais experientes e respeitados do mercado. Recentemente, ele foi fortemente criticado pela esquerda por sua adesão franca e aberta à direita de Bolsonaro. Eles não estão fazendo jornalismo imparcial e não estão escondendo isso. Pelo contrário, ele é abertamente bolsonarista e anti-PT, o que é seu direito aliás. (José Roberto Guzzo, que escreve no “Estadão”, embora às vezes seja um pouco mais fácil, segue a mesma linha.) Nos governos petistas, a militância jornalística era de esquerda com Paulo Henrique Amori e alguns outros.

Guilherme Fiuza, neto do advogado e advogado Sobral Pinto (que, embora de direita, defendeu políticos de esquerda como Luiz Carlos Prestes), é jornalista e escritor (publicou os livros “Meu Nome Não é Johnny” e “3000 Dias no Bunker”, este sobre o Plano Real). Escreveu para jornais e para a revista “Época”. Tornou-se um radical aberto e apoiador do governo Bolsonaro, sobretudo um crítico ferrenho da esquerda, que é a sua direita. Talvez estivesse exagerando a beligerância? De fato sim. No entanto, pelo menos não escondem sua posição ideológica.

Os cassados, especialmente Augusto Nunes, Guilherme Fiuza e Carla Cecatto, sabiam que no caso de Lula da Silva do PT, seriam cassados, não a pedido do recém-eleito Presidente da República, mas por Tutinha. decisão exclusiva. Pode-se ver que todos os três conhecem as regras do jogo. Portanto, eles sabem que suas demissões e as demissões de outros colegas têm a ver com um gesto de “boa vontade” da liderança de Jove Pan ao chefe do PT. Isso é realpolitik aplicada ao jornalismo. Não há nenhuma pessoa inocente envolvida neste assunto.

A Rádio Jovem Pan com uma vasta estrutura e por isso cara, certamente precisa da propaganda do governo federal para sobreviver e lucrar. Por isso, Tutinha não hesitou em expurgar seus funcionários – contratados ou terceirizados. O empresário não tem nada contra um grupo de jornalistas e é provável que aprecie alguns deles, como Augusto Nunes, Guilherme Fiuza e Carla Cecatto. O fato é que ele decidiu com o cérebro, que em jornalismo significa “com o bolso”.

Augusto Nunes, Guilherme Fiuza e Carla Cecatto podiam “atacar” – eram uma espécie de James Bond no jornalismo tropical. Mas justamente porque conheciam as regras do jogo do mercado, sabiam que a liberdade de chamar Lula da Silva de “ex-presidiário” e “não-condenado” era temporária, ou poderia durar um pouco mais se o presidente Jair Bolsonaro vencer. Quando Lula da Silva venceu e Tutinha é realista em tempo integral, os jornalistas de Bolsonaro foram “condenados” a perder o emprego. Sem piedade ou compaixão.

Pode-se surpreender com a pressa de Tuta — seu rigor, por assim dizer. Mas as demissões eram esperadas, não necessariamente porque Lula da Silva queria receber chefes de jornalistas, mas sobretudo porque o empresário queria fazer uma “oferta” ampla, geral e ilimitada, como se o novo presidente estivesse dizendo: “limpei a área e agora podemos fazer bons negócios”.

Então repito: não existe jornalismo imparcial. Mas há jornalismo que não descarta a objetividade, que a Rádio Jovem Pan vem contornando há alguns anos. Seu jornalismo era (quase) 100% tendencioso. Era a militância jornalística à direita, assim como há a militância jornalística à esquerda.

O que a rede vai dizer a seus ouvintes a partir de agora? Nada, talvez. Talvez os tempos sejam outros… vermelho e não mais verde-amarelo.

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