Idoso que viveu 72 anos sem nenhum documento morre no dia de sacar a primeira aposentadoria

Márcio Messias da Conceição saiu de casa aos 9 anos ao romper os laços familiares e viveu trabalhando em uma fazenda em condições suspeitas de serem análogas à escravidão. Enterro está previsto para às 9h desta quarta-feira (1º), no Cemitério Municipal de Campinápolis, a 565 km de Cuiabá, Mato Grosso.

O idoso Márcio Messias da Conceição, que conseguiu emitir a Certidão de Nascimento aos 72 anos, depois de viver todo esse tempo em uma fazenda em Campinápolis, a 565 km de Cuiabá, teve um infarto fulminante nesta terça-feira (31), dia em que iria fazer o primeiro saque da aposentadoria.

Segundo o melhor amigo dele, Antônio Aparecido, de 50 anos, que o adotou como membro da família, contou que ele estava bastante feliz com o andamento do processo previdenciário e trabalhista, sobretudo com a perspectiva de receber o dinheiro, depois de anos trabalhando em condições suspeitas de serem análogas à escravidão.

“Ontem, ele foi ao banco e abriu a conta para sacar a aposentadoria. Aí ficou marcado para hoje, às 9h, para sacar o dinheiro. Ele estava todo feliz”, contou.

Conforme o advogado Ricaro Feitosa, responsável pelo caso, as provas de que Márcio trabalhou as últimas décadas na fazenda foram recolhidas e usadas no processo previdenciário e trabalhista. Ele havia solicitado a aposentadoria por idade e por ter trabalhado na zona rural.

O amigo relatou que, nesta manhã, preparou o café da manhã, foi buscar alguns pães de queijo e ficou esperando que Márcio fosse até a casa dele, como fazia todos os dias, mas ele não apareceu. Ao estranhar esse comportamento, Antônio foi até a casa do idoso e o encontrou sentado, morto.

“Eu respeitava ele como alguém da família. Foi muito triste”, disse.O enterro de Márcio está previsto para às 9h desta quarta-feira (1º), no Cemitério Municipal de Campinápolis.

‘Sinto que existo’

Natural de Imperatriz (MA), o idoso veio para Mato Grosso para trabalhar no campo desde que rompeu com a família. Por ter saído de casa aos 9 anos, ele não se preocupou em levar consigo os documentos de identidade e, como ficou trabalhando apenas na zona rural, sequer precisou acessar o serviço público, como ser atendido em uma unidade de saúde na cidade ou votar.

Em setembro do ano passado, Márcio conseguiu a emissão da Certidão de Nascimento Tardia, o que foi feito depois da ajuda e insistência de Antônio para que ele se vacinasse contra a Cøvid-19. Sem os documentos, ele não podia tomar a dose, mas assim que conseguiu o registro, contou que sentia como se tivesse começado a existir.

“Mudou muita coisa, porque, agora, eu sinto que existo. Estive sozinho no mundo”, disse, no ano passado.

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