Ditador da Nicarágua dissolve ordem jesuíta no país

Nos últimos anos, diversas organizações católicas têm enfrentado o encerramento de suas atividades, resultando na detenção ou no exílio de seus principais líderes

O ditador anti-cristão Daniel Ortega dissolveu a ordem dos jesuítas na Nicarágua, despojando a Companhia de Jesus do seu estatuto jurídico e dos seus bens, segundo um decreto publicado no La Gaceta, o jornal oficial do país. Ortega, comunista ferrenho, persegue há anos a Igreja Católica, dizendo tratar-se de uma organização “antidemocrática” e uma “máfia”.

De acordo com informações oficialmente divulgadas, o governo sustenta que a decisão de desmantelar a ordem jesuíta decorre da omissão das demonstrações financeiras referentes aos anos 2020-2022. Nos últimos anos, diversas organizações católicas têm enfrentado o encerramento de suas atividades, resultando na detenção ou no exílio de seus principais líderes.

Adicionalmente, a administração declara que a renovação do conselho diretivo, cujo mandato expirou em 27 de março de 2020, não ocorreu. Esta medida acarreta ainda na transferência dos ativos e propriedades da entidade religiosa para o controle do Estado da Nicarágua, o que terá consequências diretas sobre as escolas jesuítas presentes no país.

A resolução foi tornada pública em um intervalo de uma semana após o governo liderado por Ortega ter emitido a ordem de apropriação da Universidade Centro-Americana (UCA), instituição que estava sob administração da ordem religiosa por mais de seis décadas, e que será agora renomeada como Universidade Nacional Casimiro Sotelo Montenegro – um revolucionário.

Em resposta a essa situação, a Associação de Universidades Confiadas à Companhia de Jesus na América Latina (AUSJAL) emitiu um comunicado expressando veemente repúdio, alegando que a UCA foi alvo de “calúnias e hostilidade”.

A denúncia dos acontecimentos classificados como crimes contra a humanidade para o Grupo de Peritos em Direitos Humanos da Nicarágua, da Organização das Nações Unidas, tornou [a universidade] vítima de ataques múltiplos desde 2018“, afirma o comunicado. “O confisco de fato dos bens da UCA é uma represália ao trabalho que esta instituição tem realizado na busca de uma sociedade mais justa, bem como ao seu compromisso de proteger a vida, a verdade e a liberdade do povo nicaraguense“, diz.

Cristofobia

Na terça-feira (15), a ditadura lançou acusações de “terrorismo” contra a UCA em Manágua, determinando a apreensão de todos os ativos da instituição, o que, na prática, significa seu fechamento. A UCA, que figura entre as instituições universitárias mais destacadas do país, possui uma rica trajetória em defesa dos direitos humanos e de “princípios democráticos”.

Em julho (4), condenado a 26 anos de prisão por críticas ao amigo de Lula, o bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvarez, poderia ter sido libertado e seguir para o exílio. Contudo, o bispo recusou o acordo para permanecer com seu povo. De acordo com fontes ligadas aos Direitos Humanos na Nicarágua, Álvarez foi retirado da prisão, mas isso foi desmentido pelo arcebispo de Manágua.

Em março deste ano, dois dias após o Papa Francisco classificar o regime ditatorial da Nicarágua como uma “ditadura grosseira”, o ditador Daniel Ortega decidiu suspender as relações diplomáticas do país com o Vaticano.   

A declaração do Papa aconteceu dias depois que um grupo de especialista da Organização das Nações Unidas (ONU) equiparou o regime da Nicarágua ao regime nazista. De acordo com os especialistas, Ortega e seus agentes “têm cometido e continuam a cometer graves e sistemáticas violações de abusos dos direitos humanos”. 

Esta semana, a polícia política do regime socialista da Nicarágua invadiu a casa das irmãs da Fraternidade dos Pobres de Jesus Cristo, em León, e prendeu quatro freiras brasileiras. As irmãs já estavam há sete anos na Nicarágua. Segundo a Fraternidade, as quatro irmãs foram deportadas para missão em El Salvador, do outro lado do Golfo da Fonseca e depois de Honduras, em segurança.

No mês passado, a ditadura comunista comandada Ortega, na Nicarágua, tomou posse de um colégio católico à força, e três freiras estrangeiras, da Congregação que administra o colégio, estão a ponto de serem expulsas do país. 

Segundo os jornais locais e moradores, a polícia do regime ditatorial invadiu o Colégio Santa Luísa de Marillac na madrugada do dia 29 de maio. A insituição é a única escola secundária no município de San Sebastián de Yalí, no departamento de Jinotega.

Em 23 de maio, a ditadura sanguinária de Ortega prendeu o sacerdote Jaime Iván Montesinos Sauceda, da paróquia de San Juan Pablo II, em Villa Chagüitillo, município de Sébaco, na diocese de Matagalpa, um dos departamentos mais afetados pela repressão de Ortega à Igreja Católica. O fato ocorre em um contexto de perseguição e detenção de religiosos no país.

Uma semana antes, alguns dias após a Assembleia Nacional da Nicarágua anunciar a dissolução da Cruz Vermelha, a ditadura de Ortega ordenou o fechamento de duas universidades ligadas à Igreja Católica. O regime da Nicarágua acusou as duas instituições de “descumprimento” das leis. Segundo Ministério do Interior, o fechamento se deu por “dissolução voluntária”. Ao todo, Ortega fechou 17 universidades privadas nos últimos 16 meses.

Da mesma forma, o regime ordenou o encerramento das atividades da Fundação Mariana de Combate ao Câncer no país, também vinculada à Igreja Católica, “por não prestar contas de sua diretoria há mais de quatro anos e de suas demonstrações financeiras por exercícios fiscais há mais de 11 anos”.

As tensões entre a Igreja Católica e o governo aumentaram em 2018, quando vários templos católicos deram abrigo a manifestantes feridos nos protestos históricos contra Ortega. Segundo informações do Vatican News, recentemente, duas freiras costarriquenhas da Congregação Dominicana da Anunciação foram expulsas do país.

Isabel e Cecília trabalhavam em um abrigo para idosos na Fundación Colegio Susana López Carazo e foram forçadas a deixar a Nicarágua na quarta-feira, 12 de abril.

O governo comunista já havia confiscado o mosteiro das monjas trapistas em San Pedro de Lóvago, uma região montanhosa na Nicarágua central. A administração da entidade religiosa foi entregue ao Instituto Nicaraguense de Tecnologia Agrícola. As freiras trapistas já haviam abandonado o mosteiro em 24 de fevereiro. A anulação do status jurídico das Missionárias da Caridade, fundadas por Santa Madre Teresa de Calcutá, permitiu ao governo de Ortega expulsar as religiosas em julho de 2022.

Durante a Semana Santa, o padre Donaciano Alarcón, missionário claretiano panamenho, também foi expulso por rezar pelo bispo da Diocese de Matagalpa, dom Ronaldo Álvarez. Condenado a mais de 26 anos de prisão pela ditadura de Daniel Ortega, dom Ronaldo estava em prisão domiciliar desde 19 de agosto de 2022.

Além das expulsões e confisco de propriedades religiosas, o regime comunista impôs restrições severas às celebrações da Semana Santa. Eventos públicos tradicionais de Páscoa foram proibidos resultando no cancelamento de mais de três mil procissões em todo o país. Aproximadamente 20 cidadãos nicaraguenses foram presos durante o período.

O Monitoreo Azul y Blanco, grupo independente e interdisciplinar que monitora ocorrências de violações dos direitos humanos na Nicarágua, registrou 71 ocorrências durante a Semana Santa, entre os dias 1 e 9 de abril deste ano. Os registros incluem ameaças, coação, detenções, cercos a templos religiosos e repressão migratória.

Os cristãos da Nicarágua foram proibidos de celebrar publicamente a Semana Santa, que termina em 9 de abril. Por ordem o ditador Daniel Ortega, atividades religiosas públicas estão proibidas há meses “por razões de segurança”. 

Nesta Páscoa, festas dos santos padroeiros, procissões e a Via Crucis na Sexta-feira Santa só puderam ser realizadas dentro das igrejas e em recintos especiais. Com uma população de 60% de católicos, Ortega proibiu mais de três mil celebrações de rua.

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