Ricardo de Moura Pereira
A igreja Sara Nossa Terra
Nos quase três anos de governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), a Igreja Evangélica Sara Nossa Terra recebeu cerca de 3,7 milhões de reais em publicidade do governo federal. Os dados são da Secretaria de Comunicações (Secom) da Presidência da República, mostrando que a TV Gênesis, como a emissora da igreja se autodenomina, é a campeã entre as emissoras de televisão religiosas que receberam verbas públicas para exibir propaganda do governo. Independente de canais tradicionais como Globo, SBT, Record, RedeTV! e Band, que lideram o ranking por terem maior audiência, está a TV Genesis à frente de veículos mais conhecidos como TV Cultura, TV Gazeta, ESPN, Discovery, Sony, Fox e Disney.
Desde janeiro de 2019, quando Bolsonaro assumiu a presidência, a emissora Sara Nossa Terra já recebe pagamentos para campanhas promocionais como conscientização e vacinação contra o coronavírus (846,6 mil reais), combate ao mosquito da dengue (740,8 mil reais) e vacinação contra sarampo (300 mil reais) e gripe (168,9 mil reais).
A maior parte do valor recebido pela igreja foi paga nos dois primeiros anos (3,248 milhões de reais em 2019 e 2020). Este ano, o governo de Bolsonaro cortou o financiamento para emissoras religiosas, mostra uma reportagem do VEJA, enquanto aumenta as transferências para a Globo, que o presidente considera um “inimigo”. A Sara Nossa Terra, fundada em 1992 pelo Bispo Robson Rodovalho e sua esposa Lúcia Rodovalho, tem sede em Brasília e segue a doutrina da Teoria da Prosperidade, corrente religiosa que geralmente defende que os crentes podem aumentar suas riquezas materiais na proporção dos presentes que dão aos a Igreja. Entre seus fiéis mais famosos está o ex-prefeito Eduardo Cunha, preso pela Lava-Jato.
Propina em nome de Deus
A conspiração de corrupção entre o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, o governo federal e líderes da igreja evangélica ganhou um novo capítulo nesta semana. O empresário da construção civil Ailson Souto da Trindade, que é candidato a deputado estadual no Pará, disse em entrevista à grande mídia que o ex-chefe do MEC permitiu que pastores negociassem empregos em escolas federais em troca de propina. . Segundo a denúncia, Ribeiro permitiu que lobistas (pastores) negociassem 5 milhões para a reconstrução da igreja.
O empresário no áudio diz que todo o esquema tinha como objetivo garantir contratos para obras de escolas federais em troca de reformas das igrejas pastorais. Ailson revela ainda que o dinheiro da propina deveria estar escondido na roda de um caminhão que seria levado de Belém (PA) para Goiânia (GO), onde fica a sede da igreja dos pastores. O empresário é a 12ª pessoa a denunciar esquema de corrupção no ME Enquanto os recursos públicos do MEC são desviados para barras de ouro, dinheiro em Bíblias e dinheiro dentro de pneus, a educação está sendo brutalmente prejudicada. Segundo a Andifes, 88% das universidades federais estão tendo prejuízo com o recente corte orçamentário de 7,2% anunciado pelo governo Bolsonaro. Ou seja, R$ 1,6 bilhão está bloqueado, o que torna crítica a situação dos municípios. Além disso, Bolsonaro bloqueou R$ 434 milhões para obras em mais de 1.700 escolas, a educação é afetada pela lei que limita o ICMS ao combustível e Bolsonaro vai esvaziar o recurso que garante recursos para a educação nos estados.
Para o Sinpro, o desmonte e a falta de investimento em educação fazem parte dos projetos do governo federal. Desde o início do mandato de Jair Bolsonaro, temos visto a falta de metas para ensinar as crianças a ler e escrever; perda de recursos para a educação básica; esvaziamento do Enema; a oportunidade de ingressar na universidade foi tirada de quem sonhava em cursar uma universidade para ter alguma chance de alcançar melhores condições de vida; introduzir a transformação das unidades escolares em escolas militarizadas; além, é claro, de desviar recursos do MEC para corrupção.
Governo Bolsonaro paga R$ 3,2 milhões à Record
O governo federal, por meio da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), pagou mais de R$ 3,2 milhões à TV Record, de propriedade de Edir Macedo, acérrimo defensor de Jair Bolsonaro, para adquirir os direitos de transmissão da novela bíblica. Os dez Mandamentos.” O contrato, publicado no Diário Oficial da União, foi assinado pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, genro do apresentador e empresário Silvio Santos, proprietário do SBT, outra emissora vinculada editorialmente ao atual governo.
No documento de 30 de março, está estipulado que a novela será apresentada em 242 capítulos durante o período eleitoral, com validade até novembro de 2022. A exibição será de segunda a sábado com reprises diárias. Estado laico – Além dos gastos milionários, que beneficiarão diretamente um apoiador político do presidente, outra questão do episódio gerou críticas. A temática religiosa da obra, que será veiculada em canal governamental, fere a Constituição Federal, que em seu artigo 19, inciso I, esclarece a laicidade que deve conduzir a administração pública, que não deve se envolver em questões religiosas. .
“É vedado à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – estabelecer cultos ou igrejas religiosas, subvencioná-los, impedir seu funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou de vínculo (…)”, diz o texto. Usando a EBC para fins políticos – Em carta publicada há mais de um mês, jornalistas de uma estatal acusam o governo de Bolsonaro de censura. Eles alegam que estão até restringidos porque estão impedidos de seguir instruções desfavoráveis à atual liderança e ao presidente, e também estão proibidos de divulgar dados alarmantes sobre mortes e contaminações na pandemia de Cøvid-19.
No texto, há relatos de inúmeras perseguições no ambiente de trabalho, por meio de afastamentos e transferências para os cargos de peritos que se recusam a ceder à censura do patrão. De acordo com o dossiê formulado pela comissão de funcionários da EBC, desde sua ascensão à presidência da República, em janeiro de 2019, Jair Bolsonaro interveio 138 vezes na instituição, na qual hoje sete soldados da reserva atuam em cargos de gestão. Em outubro do ano passado, durante partida da TV Brasil pelas eliminatórias da Copa do Mundo entre Brasil e Peru, no Catar, a emissora, que faz parte da EBC, foi acusada de fazer propaganda política para o atual presidente, Palácio do Planalto. . No final do primeiro tempo, o narrador André Marques enviou um “abraço” em tom animado a Jair Bolsonaro e ao presidente da CBF.
Pastor André Valadão recebeu R$ 217 mil de Bolsonaro
Ao todo, governo Bolsonaro já pagou R$ 756 mil para a Rede Super, que transmite programação evangélica
O aliado próximo de Bolsonaro, o pastor e cantor gospel André Valadão, tem sido associado à disseminação de notícias falsas nesta eleição. Em 19 de outubro, ele mentiu ao afirmar em um vídeo postado no Instagram que foi obrigado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a registrar um recurso de divulgação de fake news contra o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Depois que o vídeo das declarações duvidosas se tornou viral, Valadão admitiu que não havia recebido a intimação do TSE porque o pedido de desistência da campanha de Lula ainda não havia sido considerado.
Os gastos do governo com televisão em Valadão neste ano eleitoral foram impulsionados por uma campanha publicitária positiva do governo Bolsonaro. O evento denominado Governo Fraterno, Trabalhador e Honesto foi o mais caro pago pelo Ministério das Comunicações em 2022. A Rede Super faturou R$ 147 mil pela veiculação dessas campanhas. O relatório da Pública mostrou que essas campanhas foram desenvolvidas para “reafirmar o compromisso do governo federal em apoiar um país mais desenvolvido, inclusivo e com oportunidades para todos, destacando as principais conquistas do executivo federal”.
Em 2021, o governo pagou R$ 24 mil pela televisão para veicular a campanha de atendimento precoce. Naquela época, as próprias redes do governo tratavam ao mesmo tempo de atendimento e tratamento precoce. Um post do Departamento de Saúde este ano pedindo que qualquer pessoa com sintomas de Cøvid-19 procure tratamento precoce foi sinalizado como enganoso no Twitter.
Antes do lançamento oficial da campanha oficial, em junho deste ano, o pastor André Valadão recebeu o presidente na igreja da Lagoinha em sua igreja em Orlando, nos Estados Unidos. Na ocasião, rezou por Bolsonaro, que subiu ao pódio e se manifestou contra a legalização do aborto e das drogas, em defesa da família, da propriedade privada, da liberdade de porte de armas e contra a ideologia de gênero. O presidente esteve na América do Norte para participar da Cúpula das Américas.
O pastor Valadão também organizou em sua igreja em 2020 a ordenação do filho do ministro das Comunicações Fábio Faria, responsável pela liberação de verbas para propaganda. O ministro estava acompanhado de sua esposa Patrícia Abravanel e seu pai Silvio Santos, dono do SBT. No Instagram, Valadão escreveu: “Essa família é muito especial para mim e @cassi_valadao [esposa de André Valadão]. Vivemos juntos há muitos anos e sempre acreditamos em um milagre atrás de um milagre.”
Rede Super
A Rede Super foi comprada pela Igreja Batista da Lagoinha nos anos 2000. Com sede em Belo Horizonte (MG), a emissora foi fundada em 1997 como Rede de Televisão Comunitária por dois jornalistas. Segundo dados da Receita Federal, o canal de televisão também tem como sócio o pai de André Valadão, Márcio Valadão, também pastor evangélico e fundador da Igreja Batista da Lagoinha.
Transmitida via satélite para todo o território nacional, a programação é voltada ao público evangélico. Há programas como o “Profetizando a Vida”, com pregações de Márcio Valadão, que está no ar há mais de 20 anos, e “Alinhando os Ponteiros”, ancorado pela irmã do pastor Márcio, ngela Valadão, que também é de pregações.
A grade ainda inclui o programa “Sempre Feliz”, que entrevistou a primeira-dama Michelle Bolsonaro em novembro de 2018, ainda antes da posse de Jair Bolsonaro. Procuradas, a Rede Super e o Ministério das Comunicações não responderam até a publicação, mas o espaço segue aberto para manifestações.
Fontes de pesquisas Vejas – sinprodf – revistaforum