A vida de Indi Gregory e a morte da Europa

Juízes e médicos ingleses condenam um bebê de oito meses à morte. Estamos assistindo ao suicídio de uma civilização

A morte de qualquer homem diminui a mim, porque na humanidade me encontro envolvido; por isso, nunca mandes indagar por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.”
(John Donne, poeta inglês)

Das quatro maiores distopias do século XX – 1984, Admirável Mundo Novo, Fahrenheit 451 e O Senhor do Mundo –, três são ambientadas em Londres. Em Londres viveu e trabalhou, por muitos anos, o pai do comunismo moderno, Karl Marx. A capital inglesa foi palco de grandes dramas e tragédias modernas. Ali, na pérfida Albion, viveu o genial Shakespeare, ali reinou o cruel Henrique VIII, ali foi decapitado o santo Thomas More. Ali criaram suas obras Chesterton e Bernard Shaw, C. S. Lewis e H. G. Wells, George Orwell e Evelyn Waugh.

Não por acaso, a Inglaterra é atualmente o cenário de alguns dos piores horrores de nosso tempo. Na madrugada desta segunda-feira, 13 de novembro, morreu a pequena Indi Gregory, um bebê de oito meses condenado à pena capital da “ortotanásia” por um grupo de médicos e juízes utilitaristas. Apesar das súplicas dos pais de Indi, e da possibilidade de transferir a pequena paciente para uma clínica na Itália, onde ela seria submetida a um tratamento experimental, os cruéis doutores e magistrados ingleses preferiram a morte da criança, como já havia acontecido nos casos de Charlie Gard, em 2017, e Alfie Evans, em 2018. A primeira-ministra da Itália, Georgia Meloni, chegou a conceder cidadania italiana a Indi, para facilitar o processo de sua transferência para o Hospital Pediátrico Bambino Gesù, em Roma, mas os tribunais ingleses foram irredutíveis.

“Estamos com raiva, com o coração partido e envergonhados”, disse o pai da menina, Dean Gregory. “O serviço de saúde nacional e os tribunais não apenas lhe tiraram a chance de viver, mas também a dignidade de morrer em sua própria casa.”

A Inglaterra, assim como vários outros países europeus, tem hoje suas estruturas judiciais e médicas completamente dominadas pela cultura da morte, exatamente como previu o padre católico inglês Robert Hugh Benson, em seu magistral romance O Senhor do Mundo, publicado em 1907. No livro de Benson, a primeira das distopias, as clínicas de eutanásia oferecem a possibilidade de morte segura e rápida para qualquer um. A pena de morte é utilizada como um método “misericordioso” para a eliminação daqueles que insistem em acreditar na existência de um Deus onipotente. Em Admirável Mundo Novo, do também inglês Aldous Huxley, não existem mais pais, mães ou famílias. As crianças nascem de incubadoras. O sexo é livre, e para o caso de gravidez há clínicas de aborto permanentemente disponíveis. Na frente dessas clínicas, não há ninguém rezando pelas almas dos bebês mortos.

Numa das passagens mais impressionantes de O Senhor do Mundo, a personagem Mabel Brand decide acabar com a própria vida utilizando-se de uma dessas clínicas “misericordiosas”. Ela toma essa decisão depois de assistir uma procissão em que os inimigos de Deus exibem os corpos mutilados de adultos e crianças cristãos pelas ruas de Londres.

Em seu cinismo cheio de empatia, as palavras do juiz Robert Peel, que condenou a menininha à morte, assemelham-se à propaganda de uma clínica de eutanásia: “A dor experimentada por essa pequena garota não se justifica quando confrontada com uma condição incurável, uma expectativa de vida muito curta e nenhuma perspectiva de recuperação”.

Ainda não chegamos ao ponto em que os cristãos são perseguidos e aniquilados como no livro de Benson. Mas as multidões já saem às ruas de Londres entoando cânticos que pedem o extermínio dos nossos irmãos mais velhos, os judeus.

O apoio ao terrorismo islâmico e à morte de inocentes – seja na Inglaterra, seja em Israel – é a evidência de que estamos assistindo a um suicídio civilizacional. Indi Gregory está viva – sua alma está agora na posse de todos os instantes, com Deus. Mas a Europa já morreu e não sabe.

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