Ricardo de Moura Pereira
Últimas testemunhas a serem ouvidas no julgamento da pastora e ex-deputada federal Flordelis, duas de suas netas biológicas declararam um longo histórico de abusos sexuais e castigos físicos cometidos pelo pastor Anderson do Carmo, assassinado em 2019. Lorrane Dos Santos Oliveira e Rafaela Dos Santos Oliveira são filhas de Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelisa, e André Luiz de Oliveira, filho afetado do pastor e ex-deputado federal. Nenhum dos dois havia relatado abuso sᕮxual em outras declarações às autoridades públicas.
Última a depor, Rafaela detalhou um episódio de abuso que diz ter sofrido em 2018. Ela diz que Anderson sentou em sua cama uma noite enquanto ela dormia e começou a acariciar sua perna. A princípio, ela alegou que achava que era a mão, mas a mão começou a subir pelo corpo e alcançou a vagina. Segundo seu relato, a pastora só parou porque a cama fazia muito barulho quando ela se mexeu, acordando Simone, que confrontou Anderson. “Senti uma carícia na minha perna. A carícia foi subindo, subindo, subindo. Eu sempre fui meio criança, dormi com roupas muito folgadas. Subiu pela minha coxa, meus olhos estavam fechados de muito medo. abri meus olhos, lembro exatamente das roupas que ele estava vestindo. Era uma camiseta branca que ele estava vestindo”, disse ela sem fôlego.
“Ele pegou minha calcinha de lado. Ele conseguiu enfiar um dedo dentro de mim. Então eu rolei para o lado e fiz um baque forte contra a cama. Eu não me mexi, virei de lado e fingi estar dormindo.” “A mãe começou a dizer: ‘O que você fez? O que você fez?’. Ouvi a mãe batendo no peito”, acrescentou. Rafaela conta que sua mãe perguntou várias vezes o que Anderson tinha feito, mas o evitou por vergonha. Lorrane conta que passou por duas tentativas de abuso sᕮxual por parte do pastor, além de saber do episódio envolvendo Rafaela, sua irmã biológica, e outras duas com mulheres na casa.
A deputada leu um comunicado que Lorrane prestou ao Conselho de Curadores de Niterói em que afirma que “a mídia mentiu” quando denunciou o suposto abuso sᕮxual de familiares de Anderson. Vá para um motel e pornô. De acordo com Lorrane, sua mãe sempre a advertia para não ficar sozinha na companhia de Anderson do Carmo – mensagem semelhante à irmã. Em um, ele diz que foi à igreja com Anderson na hora do almoço no domingo. Ao passarem em frente a uma padaria em São Gonçalo onde o pastor estava comprando tortas, ela disse que perguntou se ela estava com fome e ela assentiu. Mas era estranho que ele seguisse a rota em vez de parar ali.
“Quando ele chegou em Maria Paula [bairro na divisa entre Niterói e São Gonçalo], tem um motel. Ele deu uma flecha para entrar no motel. Aí eu falei: ‘vamos almoçar aqui?’. Tinha comida, ele me disse: “Mas isso não é um restaurante, é um motel.” Em outra ocasião, segundo ela, Anderson começou a se masturbar e assistir a um filme pornográfico enquanto tomava banho no banheiro do quarto do pastor e de Flordelis, que não estava presente. Segundo ela, faltava água e o local era o único onde ainda se podia tomar banho.
“Acabou a água e pedi para tomar banho lá [no meu próprio banheiro]. Tranquei a porta, tomei banho. Aí quando saí ele estava vendo pornografia e se masturbando. Fui para o meu quarto. Dez minutos depois ele fui lá e ele começou a conversar. Eu estava sentada na cama e ele sentou ao meu lado. Então eu comecei a correr pela sala e ele me seguiu”, disse Lorrane. Ela disse que soube que além de sua irmã e mãe, outras duas mulheres da família foram molestadas por Anderson. Além disso, dizia-se que era comum ele bater nas nádegas das mulheres e abraçar as mulheres por trás.
Ele também afirmou que o pastor era agressivo e recebia punições que se transformavam em abuso. “Ele tinha o hábito de afogar meninas [na piscina]. E nesse jogo de afogamento, ele desamarrou a parte de baixo, a parte de cima do biquíni. E a gente tinha medo de ficar porque ele era muito violento. estava na piscina”, lembrou. “Fomos espancados com cintos, sandálias, ficávamos na sala de castigo. íamos para a igreja fora de serviço e sentávamos na primeira fila, não podíamos nem ir ao banheiro. . Ficamos trancados no quarto por alguns E tinha um cadeado do lado da sala. E a gente não podia nem sair para comer. Ao meio-dia o pastor Carlos [Ubiraci, filho acometido de Flordelis] veio com a louça e colocou no chão e trancou a porta.”
inquérito PM. Além de prestar depoimento negando que estava ocorrendo abusos na casa, o delegado também colocou Rayane contra a parede ao questioná-la sobre o suposto manuseio dos celulares de vários familiares, inclusive dos Flordelis. Motoboy testemunhou que levou a neta do pastor para a praia de Piratininga na zona oceânica de Niterói após o crime. Ele disse que ela pediu para ele esperar, pois não seria mais do que cinco minutos e então ele correu para a área rochosa.
A delegada afirma que ela teria encerrado o aparelho na hora, mas Rayane negou. Ele disse que foi à praia porque começou a ter ataques de pânico e ansiedade durante uma das buscas que a polícia civil fez na casa da família. A decisão de pegar um mototáxi, segundo ela, foi porque o carro da família ficou sem combustível e sofreu um grave acidente quando ela tentou usá-lo. “Fiquei lá de 10 a 15 minutos. Fui porque estava muito nervoso. A polícia indo lá me deixou muito nervoso, era uma questão de ansiedade, pânico. Eu estava chutando a areia, gritando muito, estraguei meu tênis naquele dia, fiquei lá entre dez e 15 minutos e depois voltei para casa”, afirmou.
Próximos passos. Após depoimentos de testemunhas, o julgamento segue amanhã (12) às 10h com os depoimentos dos réus. Em seguida, a acusação e a defesa farão suas alegações orais. Além de Flordelis, Simone e André, Marzy Teixeira da Silva, filha afetuosa do pastor, e Rayane dos Santos Oliveira, neta de Flordelis, são acusados no julgamento. O ex-deputado é acusado de homicídio triplo, tentativa de homicídio, formação de quadrilha, uso de documento falso e falsificação. Marzy, Simone e André Luiz serão indiciados por triplo homicídio, tentativa de homicídio e associação criminosa armada; e Rayane por triplo assassinato e conspiração criminosa armada.