Onda prateada: o que eu aprendi depois de assumir os cabelos brancos

Dona de fios grisalhos bem cuidados e assumidos com orgulho e elegância, a jornalista de beleza Vânia Goy conta como foi o processo de aceitação de sua mecha transformada em identidade

Há uns dez anos, eu desencanei de tingir o cabelo. Hoje, com 37, a mecha branca indefectível da minha mãe está mais branca do que nunca do lado direito da minha cabeça, comprovando que a genética é implacável. Aos 20 e poucos, quando ela começou a tomar forma, não pensei duas vezes ao aderir à coloração. Você sabe, ao primeiro sinal de cabelo branco, a conclusão imediata é “está na hora de começar a tingir”.

Evandro Ângelo, meu cabeleireiro há mais de uma década, cuidava de colorir apenas a mecha com a tonalidade natural do resto do meu cabelo. Até que chegou aquele dia que tal tarefa virou algo impossível: eu já estava bem grisalha de um lado só e tingimos a cabeça toda de castanho-escuro. Uma semana depois, eu já queria desistir.

A verdade é que nunca gostei da textura dos meus fios tingidos. Tampouco, apesar da carreira como jornalista de beleza, do compromisso com os retoques e idas ao salão regulares. Desde então, a mecha branca é assunto onde quer que eu esteja: sou fonte de informação, respondo dúvidas de seguidoras e amigas em transição e até dou conselhos para desconhecidas no metrô. Tem gente que até acha que a mecha é intencionalmente descolorida para criar um estilo ou perguntam se estou grávida. Acho engraçado. Mas, na maioria das vezes, os comentários que acompanham o cabelo grisalho esbarram em duas questões fundamentais: só vale se você não é velha demais ou se não parece desleixada.

“Em você fica ótimo. Pudera, com essa pele!” “Você ainda tem idade para usar porque não te deixa envelhecida.” “Não dá para ficar desarrumada, né? Você é tão elegante!” Você já deve ter ouvido ou dito algo do tipo. Faz parte. O mundo da beleza ainda é majoritariamente dominado por uma imagem de feminilidade jovem, sinônimo de perfeição, mas as regras do jogo estão mudando. As recentes discussões sobre ageísmo, liberdade e identidade têm contribuído para que muita gente se sinta encorajada a experimentar. O período de reclusão social que vivemos no último ano só acelerou o processo: salões fechados e distância de críticas massivas se transformaram em oportunidade para revisitar códigos e colocar em prática a decisão (muitas vezes adiada) de fazer uma mudança radical no cabelo.

Vânia veste anel da coleção Pedras Roladas e brincos da coleção Arena, ambas da HStern (Foto: Alex Batista)

A transição é difícil, mas possível. Nesse período, me vi cercada de loiras platinadas e de cabelos curtíssimos em busca de adiantar o processo. Vi apresentadoras e celebridades mudando, pouco a pouco, e parecendo menos intimidadas com os comentários. Gloria Pires, Samara Felippo, Astrid Fontenelle, Maria Cândida: meu feed do Instagram ficou cheio de raízes brancas. Do lado de cá, acho libertador não ter, hoje, que me preocupar com o assunto e até fui curtindo as mudanças que acompanham o avançar a passos largos dos brancos: meu cabelo, antes finíssimo, ganhou mais volume e textura.

Me sinto mais bonita, mais madura e interessante. Sobretudo, faço, e sugiro, o exercício de repensarmos a forma como fazemos elogios. Que tal falar um “você está linda” ou “a sua pele está radiante” em vez do clássico “está ótima para a idade que tem”? Me parece uma boa ideia a gente se orgulhar que o tempo está passando para a gente, não?

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