O crime organizado e as ligações de Bolsonaro com o PCC de Marcola – SP

Por muitos anos, Bolsonaro e sua gangue tentaram vincular criminalmente Lula ao crime organizado. Agora, desesperados para manter a liderança do petista nas pesquisas nesta reta final, os bolsonaristas voltam a investir pesado nessa mentira.

Nunca houve qualquer indicação de que houvesse alguma ligação entre Lula e as facções criminosas. Em debate no último domingo, Bolsonaro acusou Lula de ir ao Complexo do Alemão protegido por narcotraficantes, disse que a maioria dos presos do país votou nele e afirmou categoricamente que Marcola, chefe do PCC, votou em Lula. É tudo mentira. Essas são as últimas garrafas de pássaros feitas nos porões do bolsonarismo.

O presidente usou seu programa eleitoral, carros de imprensa vassalos e o gabinete do ódio para tentar espalhar a mentira de que Lula é aliado do PCC. A campanha de Lula já foi representada no TSE quatro vezes contra quem associa o candidato a uma facção criminosa. Segundo apuração da Agência Pública, Aos Fatos e Núcleo Jornalismo, os vídeos publicados pela Jove Pan ligando Lulu ao PCC alcançaram mais de 1,75 milhão de visualizações no YouTube. Conteúdo falso foi identificado em mais de cem fluxos de aplicativos de mensagens.

O fato é que se há um candidato na disputa que simpatiza com o banditismo é Jair Bolsonaro. O goleiro Bruno, condenado por sequestrar, matar e esconder o cadáver da mãe do filho, postou um vídeo chamando Lulu de “bandido” e pedindo para votar em Bolsonaro. Guilherme de Pádua, o assassino de Daniela Perez, é outro criminoso que promove ativamente Bolsonaro. A deputada indiciada e presa Flordelis, que a justiça considera a conselheira e idealizadora do assassinato do próprio marido, sempre foi e continua sendo uma bolsoriana de raiz. Todos eles têm uma coisa em comum: são criminosos escondidos atrás da Bíblia.

Não há nada além de simpatia nesses endossos. Com base neles, não se pode dizer que Bolsonaro tenha ligação com bandido. No entanto, existem outros fatos que apoiam essa afirmação. A família Bolsonaro está historicamente ligada ao crime organizado, inclusive empregando parentes do chefe da milícia no serviço público. É a mesma milícia que se autodenominou autora do assassinato de uma opositora política do Bolsonaro, a vereadora Marielle Franco. Não é necessário obrigar o bar a confirmar que esta família tem ligação física com o crime organizado no Rio de Janeiro. A história da aliança entre Bolsonaros e milícias cariocas é cheia de evidências.

Nesta semana, uma conversa pública entre o chefe do PCC e o então representante Jair Bolsonaro começou a circular no noticiário. A reunião ocorreu em 2001 em uma audiência do Comitê Especial da Câmara sobre Violência. Engana-se quem pensa que foi uma conversa dura entre um ex-soldado implacável com criminosos e aquele que é considerado o maior líder da maior facção criminosa do país.

Foi uma conversa agradável, risos, acordo e um momento de simpatia mútua. A certa altura, Marcola ressalta que também é preciso combater a criminalidade do colarinho branco. Bolsonaro responde prometendo: “No dia em que eu for o ditador deste país, vamos resolver esse problema. Você pode ter certeza disso.”

Bolsonaro tratou Marcola como “senhor”. O homem que costuma virar um bicho feroz com políticas e jornalistas mulheres, mostrou-se dócil com o criminoso.

Houve também desentendimentos ocasionais entre os dois, mas todos com grande respeito. Durante a entrevista, Bolsonaro se dirigiu ao criminoso como “senhor”. O homem que costuma se tornar uma fera entre as mulheres políticas e jornalistas mostrou-se dócil ao se deparar com o chefe do PCC.

Nessa campanha, Bolsonaro recebeu apoio entusiástico de Ney Santos, prefeito de Embú das Artes, no interior de São Paulo, figura aqui retratada nesta coluna. Antes de entrar na política, Ney Santos era um ladrão altamente perigoso. Ele foi condenado por roubo, receptação e formação de quadrilha. Em 2003, ele foi preso em flagrante após roubar um carro blindado com uma metralhadora 9mm. Segundo o Ministério Público, foi desse presídio que Santos ingressou no PCC, em cuja facção logo se tornou um dos líderes.

Além disso, segundo o deputado Ney, Santos “fez sua fortuna em um piscar de olhos, entrando na esfera política e concorrendo a cargos públicos”. A investigação mostra que, paralelamente à sua vida política, ele continuou sendo o comandante do narcotráfico na região oeste da grande São Paulo. Desde que saiu da prisão e se tornou prefeito, Santos acumulou uma fortuna incompatível com sua renda: mais de R$ 100 milhões em apenas 4 anos. A maior parte dessa renda viria dos lucros dos postos de gasolina que ele possuía.

Os promotores não têm dúvidas de que esses cargos são usados para lavar dinheiro de atividades criminosas, especialmente o tráfico de drogas. Hoje, Ney Santos é um político republicano, do partido Igreja Universal, que faz parte da base aliada de Bolsonaro. É outra coisa escondida atrás da Bíblia. Nunca se soube que os bolsonaristas tivessem dificuldade em manter uma aliança política com esse perigoso ex-presidiário.

No final do ano passado, o Presidente da República apareceu abraçado a um membro do PCC em um evento beneficente realizado em Santos, São Paulo. Trata-se da ex-policial militar Freda da Silva Gonçalves Bento, acusada pela polícia civil de ser responsável pela lavagem de dinheiro para o PCC. Pouco antes de Bolsonaro aparecer sorrindo ao lado dele, o criminoso estava preso por ligações com tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Fredy é apontado como o braço direito de André do Rapa, um dos principais chefes do PCC, responsável pelo envio de toneladas de cocaína do porto de Santos para a Europa.

Claro que essa foto não incrimina Bolsonaro. O presidente não tem como checar os registros policiais de quem pede uma foto. A foto só prova que o criminoso do PCC, bem próximo da cúpula da facção, tem simpatia por Bolsonaro.

E de onde vem essa simpatia? Talvez isso venha de algumas das políticas públicas do governo Jair Bolsonaro que ajudaram a fortalecer ainda mais o PCC. Decretos que flexibilizaram a posse e o comércio de armas facilitaram o armamento da maior facção criminosa do país. Em 2019, o MPF alertou o governo federal por meio de nota técnica dizendo que os decretos facilitariam o desvio de armas para o crime organizado. Claro, Bolsonaro ignorou o aviso.

Agora, em 2022, as notícias nos informam que o PCC está usando metralhadoras e rifles legalizados. Sim, graças a Bolsonaro, o crime organizado teve acesso mais fácil às armas. Como há pouco ou nenhum controle e fiscalização no registro do CAC, o PCC agora pode comprar armas e munições legais por meio das Oranges. Além disso, a “cesta criminosa” – composta por fuzis, carabinas e pistolas – ficou até 65% mais barata após os decretos de Bolsonaro. Segundo o Estadão, não são só as laranjas que compram armas.

Com a ajuda direta de Bolsonaro, o PCC agora não precisa mais gastar uma fortuna para trocar armas do Paraguai ou da Bolívia. Basta ir à loja de armas mais próxima e comprá-las com tranquilidade. O promotor Lincoln Gakiya disse ao Estadão que os integrantes do PCC “pagaram de R$ 35 mil a R$ 59 mil por um fuzil no mercado paralelo e agora estão pagando de R$ 12 mil a R$ 15 mil por um fuzil .556 com nota fiscal”.

Após a liberação geral do Planalto, os três criminosos do PCC conseguiram comprar armas em seus nomes com notas fiscais e afins. Um deles já foi processado 16 vezes por tráfico de drogas e homicídio. Portanto, o principal beneficiário dos decretos de porte de armas não é o bom cidadão que quer se proteger do banditismo. Foi o PCC que aumentou substancialmente seu poder de guerra enquanto gastava menos dinheiro.

Não se sabe que o presidente tenha introduzido políticas públicas que prejudicassem os planos do PCC. No último debate, Bolsonaro tentou inventar um. Ele simplesmente conseguiu que seu então secretário de Justiça, Sergio Moro, fosse o responsável por transferir Marcola para um presídio federal de segurança máxima.

A verdade é que o governo federal não teve influência na decisão. Quem solicitou a entrega foi o Ministério Público do MP-SP e quem expediu o despacho foi o juiz estadual. E o presídio de segurança máxima para onde Marcola foi transferido é Porto Velho, em Rondônia, construído por… Lula. Em 2008, uma investigação da Polícia Federal descobriu um plano de Fernandinho Beira-Mar para sequestrar um dos filhos do então presidente Lula. A intenção do criminoso era forçar a soltura dele e de outros presos, incluindo Marcola, chefe do PCC. Como bem lembrou o jornalista Rubens Valente, “as facções odeiam os presídios federais, todos construídos pelo governo Lula sob a liderança de Thomas Bastos, uma ação pioneira no país. A segurança apertada foi planejada e implementada pelo governo do PT. A acusação de Bolsonaro de uma suposta aliança entre o PCC e o PT em 2006 continua válida.

Apesar da campanha de Bolsonaro insistir em distorcer os fatos, eles estão aí escancarados. Enquanto o governo de Lula era uma pedra no sapato do crime organizado, o de Bolsonaro era a mãe.

Fonte de jornalismo da  matéria:   The Intercept Brasil 

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