Era uma conversa de mesa de bar', diz criminalista sobre prisão de Jefferson

Após a prisão do ex-deputado Robert Jefferson (PTB) neste domingo, por volta das 19h (23), começou a circular um vídeo mostrando agentes da Polícia Federal negociando calmamente a extradição do político em sua residência. A entrevista ocorreu após ataques com tiros e granadas que feriram um delegado e uma policial. A gravação causou desconforto entre os delegados da PF. No vídeo, um dos agentes diz a Jefferson ‘o que você precisar, nós faremos’.

Em entrevista ao Estadão, o advogado criminalista Celso Vilardi, professor da FGV, acredita que o clima entre os policiais e Jefferson pareceria uma “conversa de bar”, o que foge aos protocolos habituais da Polícia Federal. “A cena que foi filmada em que todos estão conversando e a polícia está ouvindo atentamente a versão do cara que atirou nela, como se todos estivessem conversando em um bar, é absolutamente inaceitável”.

Vilardi também falou sobre a movimentação do juiz Anderson Torres, que quase foi até a casa de Jefferson para assistir a operação da PF. Pouco antes da prisão do ex-deputado, o ministro Alexandre de Moraes emitiu um despacho alertando que a intervenção de “qualquer autoridade em sentido contrário com o objetivo de retardar ou interromper injustificadamente a execução de um ato será considerada crime de improbidade”.

1 – Qual é a sua avaliação sobre abordagem da Polícia Federal na casa de Roberto Jefferson?

Em primeiro lugar, a polícia agiu corretamente ao cumprir a ordem do Ministro do Supremo Tribunal Federal. Foi recebido com granadas e tiros, o que é absolutamente deplorável e um crime. Posteriormente, esperei que o cidadão fosse preso. Mas fiquei chocado com a imagem de um policial federal conversando casualmente com a pessoa que havia acabado de atirar em toda a equipe. Em primeiro lugar, não sou a favor de um tiroteio, não sou a favor de a polícia entrar e matar criminosos. O comportamento, como se as pessoas estivessem conversando na mesa do bar com quem ele estava apenas atirando nas pessoas, porém, me surpreendi com a atitude do policial. Uma coisa é negociar. Uma coisa é evitar que outra pessoa morra. Outra é conversar com uma pessoa que cometeu atos absolutamente ilegais e terríveis como se estivesse em um bar.

2 – Isso é um padrão nas operações da PF? O sr. já viu isso acontecer em outros casos?

Eu nunca vi. Sou advogado há 32 anos, já assisti muitas operações da Polícia Federal e até vi suas ações às 6 horas da manhã na casa dos empresários, o que considero desarrazoado, com invasão, uso da força , arrombamento de janelas, portas, etc. com pessoas desarmadas e que não ofereçam resistência à prisão. E ontem realmente vimos uma pessoa reagir de forma brutal, em um ataque real a agentes da Polícia Federal, e não foi necessária nenhuma atitude contundente. Obviamente não estou defendendo, repito, que a Polícia Federal deve atirar em ninguém. Agora, a cena que foi filmada em que todos estão conversando e a polícia está ouvindo atentamente a versão do cara que atirou nela como se todos estivessem em um bar é absolutamente inaceitável. O Brasil precisa acordar. Vivemos um momento muito perigoso e tal atitude precisa ser efetivamente coibida por lei. Nenhuma condescendência para o homem que fez tal ato.

3 – A quais motivos o sr. atribui essa tratativa tão diferenciada que foi dada a Jefferson?

Não posso atribuir razões porque isso seria realmente conjectura. Como advogado e professor de direito, não depende de mim. Estou apenas colocando minha opinião antes do que aconteceu. Espero que haja uma investigação completa, incluindo como alguém que estava em prisão domiciliar como alternativa à prisão preventiva poderia ter o arsenal que esse homem tinha em sua casa. Este é outro fato surpreendente.

4 – O sr. acha que é possível dizer que houve uma tratativa diferenciada por se tratar de um preso com melhores condições econômicas?

Essa questão de tentar separar as coisas por razões econômicas é um disparate. Já defendi muita gente de alto poder econômico, gente rica, que teve que enfrentar a polícia federal extremamente agressiva às 6 da manhã. Não a atribuo à questão de saber se o sujeito é rico ou pobre. O que aconteceu ontem não faz parte do procedimento da Polícia Federal. E isso me surpreendeu.

5 – A respeito da presença do ministro da Justiça, o sr. considera que isso foi apropriado ou também faz parte de um cenário de excepcionalidade?

O Ministro da Justiça, na minha opinião, não deveria fazer parte de tal problema. Se eu fosse presidente da república ou ministro da justiça, não participaria de tal ato. Este é realmente um ato de banditismo comum, terrível e absolutamente impressionante. Mas isso não justifica a presença de nenhum Ministro da Justiça.

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